A temida segunda onda de Covid-19, que alcançou a Europa e os Estados Unidos
com aumento nos números de casos confirmados e óbitos, aproxima-se do Brasil
sem que o país sequer tenha saído da primeira onda, é o que apontam
especialistas ouvidos pelo Metrópoles.
Nas últimas semanas, houve inconsistências nos dados sobre a Covid-19 reunidos
pelo Ministério da Saúde devido a falhas na plataforma tecnológica. O
represamento das informações pode ter impactado no aumento nas médias móveis
de óbitos da doença. No entanto, hospitais particulares e públicos de algumas
capitais do país voltaram a sentir a pressão provocada pela Covid-19 e
laboratórios particulares confirmaram aumento na demanda e na positividade dos
testes.
“Com 400, 500 mortes por dia, eu não diria que saímos da primeira onda. Eu
diria que continuamos inundados e, agora, ao que tudo indica, o nível da água
está aumentando”, afirma o médico sanitarista Claudio Maierovitch, da Fundação
Osvaldo Cruz (Fiocruz).
O especialista alerta que o fim do ano, com as tradicionais confraternizações
e reuniões de família, pode ser a gota d’água para um novo pico da doença.
“Ainda em março, o Brasil deixou de tomar as medidas necessárias para o
controle da pandemia, a população ficou completamente desamparada pelas
autoridades em relação às orientações de saúde, a vigilância epidemiológica
não funcionou, os governadores e prefeitos, por sua vez, foram diminuindo os
níveis de alerta”, relata.
A bióloga Natália Pasternak, do Instituto Questão de Ciência, concorda que o
país deve esperar por um novo pico de casos se as medidas de prevenção não
voltarem a ser seguidas pela população. “A segunda onda na Europa foi
relacionada ao verão, quando muitas pessoas — especialmente os jovens —
viajaram, reuniram-se em bares e descuidaram da proteção. Nestes últimos dias,
vimos algo parecido no Brasil, sobretudo entre as classes mais altas, porque
as pessoas estão absolutamente exaustas em relação à quarentena”, afirma.
O epidemiologista Bernardo Horta, da Universidade Federal de Pelotas, afirma
que a “fadiga do lockdown” é um fator determinante neste momento. Após muito
tempo com a liberdade restrita, as pessoas estão descuidando das medidas de
prevenção. Ele, entretanto, reforça que, até a vacinação, não haverá outra
maneira de se proteger, que não seja evitando aglomerações, usando máscaras e
mantendo o distanciamento social.
Metrópoles