Produzida em tempo recorde pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, a vacina contra Covid-19 CoronaVac virou sinônimo de esperança no Ceará. O imunizante foi o primeiro a ser utilizado no Estado, tão logo chegaram as 218 mil doses enviadas pelo Ministério da Saúde, no último dia 18.
No último sábado (23), o Ceará recebeu mais 72.500 doses, desda vez da vacina
Oxford/AstraZeneca, para o combate à Covid-19. O imunizante foi produzido pela
Universidade de Oxford e pelo laboratório britânico AstraZeneca, e no Brasil,
será desenvolvida pela Fiocruz. Com a quantidade disponível no Estado, será
possível imunizar 36.250 pessoas, visto que será necessária a aplicação de uma
segunda dose.
No Ceará, a partir desta quarta-feira (27), idosos com mais de 75 anos
começarão a ser vacinados com doses da Oxford/AstraZeneca. Do lote, 34% serão
destinados para Fortaleza e 66% serão distribuídos para o Interior. Assim como
a CoronaVac, a vacina de Oxford possui suas especificidades, desde seus
componentes ao modo como age no corpo humano.
CoronaVac x Oxford/AstraZeneca
Ambas as vacinas possuem diferenças, mas é importante ressaltar que as duas
são eficazes e passaram por todos os testes necessários para registro em
diversos órgãos regulatórios no mundo, incluindo a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA).
Segundo o microbiologista e farmacêutico Felipe Magalhães, não há como dizer
se uma vacina é melhor que a outra porque elas têm pontos positivos no geral.
“Vários aspectos devem ser observados nessas comparações. A vacina que mostrou
maior eficácia nos estudos realizados foi a vacina de Oxford. Porém, não
podemos considerar que uma é melhor do que a outra somente pela questão da
eficácia. A CoronaVac, por exemplo, demonstrou menor eficácia geral, porém,
protegeu em 100% dos casos moderados, graves e mortes, o que é o mais
importante nesse momento”, explica.
Segurança
Apesar de trazer alívio, sobretudo para os profissionais de saúde que atuam na
linha de frente contra a Covid-19, idosos acima de 75 anos e população
indígena, a CoronaVac ainda tem sua eficácia e segurança questionadas. Mas não
há o que temer. Um dos principais motivos, aponta Felipe Magalhães, é que a
CoronaVac foi desenvolvida a partir de uma tecnologia tradicional e segura,
semelhante à já adotada em vacinas contra gripe e hepatite A.
CoronaVac: vírus inativo
Todos esses imunizantes se baseiam na desativação do vírus – o SARS-CoV-2, no
caso da CoronaVac – como estratégia para induzir o sistema imunológico humano
a se defender do agente causador da doença. Mesmo desativado, o vírus é
reconhecido e identificado pelo organismo como uma ameaça. Mas, justamente por
estar desativado, não pode se multiplicar e causar a doença. Ou alguma outra
qualquer, como já chegou a ser cogitado.
“O vírus inativado é um vírus morto, que serve como um modelo perfeito para
que o corpo, ao encontrar o vírus vivo [posteriormente], consiga identificá-lo
de primeira”, explica Felipe. “É como se eu chegasse e mostrasse a foto de uma
pessoa. Quando você encontrá-la pessoalmente, já vai poder reconhecer porque
já viu uma foto dela, que era idêntica”, compara o especialista.
Oxford/AstraZeneca: vetor viral
Diferentemente do método usado para a CoronaVac, a vacina de Oxford usa uma
tecnologia chamada de vetor viral, em que um vírus diferente é modificado para
“parecer” ao organismo com o novo coronavírus e gerar imunidade. A partir do
contato com os anticorpos, ambas as vacinas funcionam da mesma forma.
“O vetor viral da vacina possui uma região idêntica ao do novo coronavírus,
que é reconhecida pelo corpo como um invasor. Então, o organismo envia um
comando para as células de defesa, informando que elas devem produzir
anticorpos para combater àquela possível infecção. Desse modo, o corpo se
prepara e, quando ocorrer uma possível infecção real pelo novo coronavírus,
nós já teremos o sistema imunológico preparado para, rapidamente, combater o
vírus”, informa o farmacêutico microbiologista.
Eficácia
Dados divulgados pelo Instituto Butantan revelam que a CoronaVac tem 78% de
eficácia em casos leves da doença e eficácia global de 50,38%, com capacidade
de proteger em casos leves, moderados ou graves. A Oxford/AstraZeneca tem
eficácia de 70% após a primeira dose e 100% de eficácia contra hospitalização
e forma grave da doença.
Mas para garantir uma “alta eficácia” é imprescindível seguir o protocolo
definido pelos laboratórios e tomar a segunda dose da vacina entre 21 a 28
dias após a primeira. E ambas devem ser do mesmo fabricante, alerta Magalhães.
“Quando as outras vacinas chegarem, a segunda dose tem que ser do mesmo
fabricante da vacina tomada na primeira. Porque o ingrediente farmacológico
ativo, que é a parte principal da vacina, difere de uma para outra. Tanto é
que cada uma tem a sua eficácia. Tem que seguir o mesmo mecanismo para acabar
não confundindo o corpo”.
Reconhecimento do vírus
De acordo com o farmacêutico, o reconhecimento do vírus no organismo e o
posterior aumento da produção do “exército” de anticorpos, leva um certo tempo
e varia, de pessoa para pessoa, de organismo para organismo. “Tanto é que é
preciso tomar uma segunda dose para dar um reforço ainda melhor para o corpo
identificar [o vírus]”. Logo, não há como estabelecer um prazo exato de dias
para garantir que alguém está devidamente imunizado contra o vírus ou não.
“A partir do momento em que você toma a primeira dose, o corpo já começou a
produção [de anticorpos]. Então, querendo ou não, pelo menos um pouquinho de
proteção você já tem. E, à medida que os dias vão passando, essa proteção vai
aumentando mais ainda”.
Efeitos colaterais
Qualquer vacina ou medicamento pode causar efeitos colaterais, porém, os
efeitos são, em sua maioria, simples e raros. “Obviamente, reações podem
aparecer com a vacinação em massa, mas, se isso acontecer, provavelmente serão
bem simples e em um número mínimo de pessoas”, destaca Felipe Magalhães.
Os sintomas podem ser irritação do local em que a vacina foi aplicada,
vermelhidão, coceira, inchaço, além de dor de cabeça leve, fadiga e dor
muscular. No entanto, é importante salientar que esses efeitos não são comuns.
Os efeitos adversos também podem ser apenas uma reação natural do corpo para
tentar combater a suposta infecção. “O corpo não sabe que aquilo é uma
‘brincadeirinha de faz de conta’. Ele acha que está sendo realmente atacado,
então ele vai tentar de todas as formas combater aquele possível ataque.
Algumas pessoas são mais reativas, outras não”, completa o especialista.
As vacinas são contra indicadas para crianças, gestantes e imunossuprimidos,
já que não foram feitos estudos de segurança com esses grupos. “Deve-se
aguardar as indicações do laboratório produtor e do governo em relação ao
plano de vacinação para esses grupos”, informa o profissional.
Diário do Nordeste