Nascida e criada entre Tamboril e Saco Grande, no município de Catunda, Kayla
Oliveira saiu do interior do Estado para seguir o sonho de ser modelo.
Em um curto período de tempo, a jovem morou no Maranhão, para acompanhar o pai
que era sócio de um posto de gasolina. Após 5 anos, Kayla voltou para Tamboril
e em seguida, se mudou para Fortaleza. No Ceará, morava com o pai, a madrasta
e os irmãos.
"Minha mãe faleceu quando eu tinha um ano e oito meses, vítima de câncer. Como
eu ainda era um bebê, não tenho lembranças dela, mas todos da minha família
dizem que nos parecemos muito. Por isso atribuo a minha beleza a ela.".
Foi em Fortaleza, aos 17 anos, que começou a seguir em busca do sonho de ser
modelo. Após terminar o ensino médio, Kayla começou a dividir o seu tempo
entre o desejo de ocupar as passarelas e o trabalho de telemarketing. Em meio
a procura de agências, ainda antes da transição (de gênero), os agentes já
notavam que a jovem não se encaixava no perfil masculino.
“Pediram para eu malhar, ganhar massa para entrar nesse tal de modelo
masculino, mas já sabiam que alguma coisa estava se modificando ali. Disseram
então que eu precisava decidir entre uma coisa e outra. Por um tempo deixei
esse sonho de lado. Foquei na minha transição. Fui para São Paulo para fazer a
cirurgia, colocar a prótese (nos seios)... E, por volta dos 23 anos, voltei a
buscar agências de modelo. Foi quando um amigo sugeriu o concurso (The Look of
The Year). Me inscrevi pela internet, fui na seleção e me tornei uma das
finalistas”, contou Kayla.
A modelo chegou longe no concurso, mas não conseguiu a classificação entre as
três finalistas. Com a eliminação, Kayla voltou para Tamboril e ficou entre o
interior e a Capital. Após publicações no Instagram, as fotos começaram a
chamar atenção de uma agencia que convidou a jovem para o casting.
Com a pandemia, a jovem precisou voltar para Tamboril, mas viajou à São Paulo
em convite do maquiador Alan Jones. Desde então, Kayla é contratada pela
agência Joy.
Relação com a família
Kayla relatou que o mais difícil na vida de modelo é ficar longe da família. A
jovem também contou que sempre recebeu apoio em todos os âmbitos da vida.
Desde a transição, até a profissão de modelo.
“Quando fiz minhas cirurgias, comuniquei a meu pai e eu sentia medo de como
ele iria reagir. Mas o que recebi foi apoio. Fui visitá-los em um Natal, com
os cabelos já compridos. Foi assim a primeira vez que me viram como
Kayla”.
“Ele me apoiou muito, mas dizia sentir medo do preconceito das pessoas comigo.
O receio dele era de que eu sofresse alguma violência na rua, algum
preconceito. Mas quando eu surgi como Kayla, que ele me conheceu como eu sou,
ele ficou admirado. A primeira vez que ele me viu, senti que ele me olhou com
admiração e isso foi muito importante pra mim”.
Sonhos e preconceito
“Preconceito a gente enfrenta em todo canto, mas a gente tá aí pra isso. Eu
não sou aquela pessoa que se deixa abalar. Sou muito segura, sei quem eu sou,
e sei que muitas pessoas estão aí para aprender. E eu tenho paciência e calma
para ensinar”.
Kayla contou que o seu maior sonho é ser reconhecida pelo seu trabalho e
entrar no site models.com. A modelo leva grandes referências para as
passarelas, como Valentina Sampaio, também modelo trans cearense. Além de
citar nomes como as irmãs Hadid, Gigi e Bella, assim como a brasileira Gisele
Oliveira.
“Pretendo levar pro mundo para que outras pessoas me conheçam, se inspirem em
mim, em meus familiares, e vejam que pessoas trans não são só um lado
marginalizado. Que há um lado muito bom. E é algo que vai chegar para as
pessoas.O importante é acreditar em você, nunca desistir de seus sonhos, seus
objetivos, ter fé em Deus e saber que a fé move montanhas.".
Diário do Nordeste