Embora especialistas afirmem que seja ideal tomar a vacina contra a Covid-19
para interromper os elevados números de casos e mortes pela doença, a infecção
ainda assim pode acontecer entre os imunizados após as primeiras e segundas
doses aplicadas. Por isso, o ideal é continuar mantendo as medidas de
prevenção durante o período de crise sanitária, segundo os
especialistas.
Além disso, há ainda a possibilidade de alguém imunizado contaminar outras
pessoas. Para tirar dúvidas quando à necessidade de se manter o isolamento
mesmo vacinado, dentre outras medidas, o Diário do Nordeste conversou com a
médica e integrante do Coletivo Rebento, Cynthia Loiola, e o infectologista
Keny Colares.
Por que vacinados devem continuar com as medidas de isolamento?
Keny Colares - A grande questão é que as vacinas utilizadas só vão
atingir a proteção máxima após cerca de três semanas da aplicação da segunda
dose. Nesse intervalo, a pessoa vacinada pode ter algum grau de proteção, mas
será parcial. E, mesmo vacinado, os imunizantes não dão 100% de proteção
contra a pessoa se infectar, eles estão mais propensos a proteger contra a
doença, ou seja, o agravamento dos sintomas. Por esse motivo, é importante
que, mesmo vacinada, a pessoa continue mantendo o distanciamento e usando
máscaras.
Cynthia Loiola - As duas vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil
têm prazos de intervalo e efeitos diferentes. Então, nesse período de
intercalação também há riscos. Após esse período, também é necessário que haja
a continuidade na proteção como já temos feito: máscara, álcool em gel e
distanciamento. Enquanto não tivermos a imunidade em rebanho, entre 50% a 70%
da população vacinada, não há como pensar em descartar as medidas de
prevenção.
Como pessoas vacinadas ainda podem ser infectadas pela Covid-19?
Keny Colares - Isso já está previsto nos estudos das vacinas. Nenhuma
delas impediu 100% que as pessoas se infectassem. De diferentes formas, as
vacinas mostraram que reduzem significativamente os casos mais graves, mas
ainda assim há notificações de pessoas que se infectaram, às vezes com
sintomas leves ou assintomáticas.
Se a pessoa só tomou a primeira dose ou ainda não deu tempo de fazer os
efeitos esperados da segunda dose, há ainda mais chances, como mencionei, pois
ainda não atingiu o pico de proteção máxima da vacina. Mesmo depois disso,
algumas pessoas ainda vão se infectar e transmitir. Por isso que o acesso a
vacina não quer dizer que podemos descuidar das medidas
preventivas.
Vacinados com 1ª e 2ª doses podem desenvolver o caso grave?
Keny Colares - Na maioria dos estudos que foram feitos, não há
evidenciado o desenvolvimento de casos graves em quem foi vacinado, mostrando
que [as vacinas] têm uma proteção maior nesses casos. Entretanto, esses
estudos não foram, especificamente, para avaliar a variável mortalidade e
imortalidade. Para fazer isso, é necessário um número muito maior de
pessoas.
Então, ainda é possível, mas não provável, que uma pessoa vacinada com as duas
doses e, passado o período de efeito, ainda adoeça e tenha a forma grave e
eventualmente chegue à morte. Contudo, essa possibilidade mais grave reduz
muito se ela está vacinada corretamente. Por isso é importante manter os
cuidados.
Cynthia Loiola - Não existe o 100% na medicina. A gente trabalha com
estatísticas. O que se observou, nos estudos da CoronaVac, por exemplo, é que
100% das pessoas que foram totalmente vacinadas (1ª e 2ª doses) não
manifestaram casos graves. Mesmo assim, tivemos casos leves a moderados após a
vacinação. Isso quer dizer claramente que pessoas vacinadas podem pegar
Covid-19, do mesmo jeito de quem toma vacina contra a gripe pode pegar doença
e manifestá-la de forma mais amena. O objetivo aqui é evitar a morte.
Teve muita gente que adoeceu entre a primeira e a segunda dose da vacina, pois
a população pode ter entendido, em algum momento, que após a primeira dose já
estava liberado aglomerar, encontrar familiares sem proteção, etc.
Quem está vacinado pode transmitir o vírus, caso seja infectado?
Keny Colares - Teoricamente, sim. A gente não sabe até que ponto a
transmissão vai ser igual ou menor de quem não foi vacinado. Mas, rigor,
uma pessoa que está infectada, mesmo vacinada, é possível, do ponto de vista
teórico, que ela tenha a quantidade de vírus menor do que a pessoa que não foi
vacinada e que ela transmita menos do que a pessoa que não foi vacinada. Mas,
tudo isso ainda é hipotético e ainda não foi comprovado. Então, a gente deve
partir do pressuposto que sim, a pessoa vacinada ainda pode transmitir o vírus
caso seja infectada.
Quem se infectar já vacinado terá sintomas menos graves?
Keny Colares - O que está em boa parte dos estudos das vacinas é que,
de uma forma geral, quem foi vacinado e já atingiu aquele período de proteção,
costuma não se infectar ou, caso se infecte, apresenta sintomas leves ou não
manifesta sintomas. A gente torce que cheguem vacinas com um grau de proteção
maior do que essas, mas essas que já temos no mercado já representam um enorme
avanço.
Cynthia Loiola - A vacina protege do desenvolvimento de casos mais
graves. Então, com a vacina, as chances de morte são bastantes reduzidas e,
sem vacina, o risco é alto, o que pode ocasionar em mais tempo de internação,
causando custos financeiros e emocionais, além das sequelas. A forma mais
grave da Covid-19 mexe com o todo o organismo da pessoa.
Diário do Nordeste