O Brasil está avançando na campanha de imunização contra Covid-19, que ocorre
desde 18 de janeiro. Após liberação pelo Ministério da Saúde, diversas cidades
começaram a vacinar a população em geral, sem prioridade, por ordem
decrescente de idade. Diante o tão esperado momento da vacinação, podem surgir
dúvidas sobre o que pode ou não fazer.
Para tirar as principais dúvidas, os especialistas Keny Colares, professor e
pesquisador do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade
de Fortaleza, e Edson Teixeira, Imunologista do Departamento de Patologia e
Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), responderam uma lista
de questionamentos.
Quando devo tomar a 2° dose?
As vacinas utilizadas no Brasil até o momento necessitam de duas doses. O
intervalo de tempo entre as aplicação varia conforme o imunizante. Veja os
períodos:
- Coronavac (Sinovac/Butantan) - intervalo de 14 a 28 dias (2 a 4 semanas)
- Covishield (Oxford e AstraZeneca/Fiocruz) - intervalo de 4 a 12 semanas
- ComiRNAty (Pfizer) - O Brasil recomenda intervalo de até 120 dias, mas a bula do imunizante preconiza período de 21 dias (Entenda mais aqui)
Há também previsão da chegada de doses do imunizante da Johnson & Johnson,
que é administrativo em dose única, para a próxima semana.
O que faço se ficar doente entre a 1° e a 2° dose?
Quem está infectado com Covid-19 deve esperar um mês, a partir do primeiro dia
de sintomas ou do resultado positivo para a doença, para tomar a vacina contra
a doença. O intervalo deve ser respeitado mesmo que a pessoa esteja infectada
no intervalo entre duas doses. Após o período, deve procurar completar o
esquema vacinal.
O professor Keny Colares explica que é recomendado que pessoas com suspeita de
Covid-19 também aguardem a confirmação do diagnóstico para se vacinar, e
alerta sobre a chance de falso negativo nos testes. "Tem exames que dão
negativo, e a pessoa tem a doença, e tem exames que dão positivo e que a
pessoa não tem a doença. Isso tem que ser interpretado pelo profissional de
saúde, às vezes ele pode decidir continuar acompanhando o caso como se fosse
Covid, porque os sintomas podem ser muito sugestivos", explica.
Em relação a outras doenças, os especialistas orientam procurar acompanhamento
médico e adiar a vacina principalmente em caso de febre. No caso de sintomas
gripais leves, que não caracterizem a Covid-19, não há contraindicações.
"Se pessoa tá com febre elevada nas últimas 24h, moleza, pode ser dengue ou
Covid, esse não é um bom momento de fazer a vacina. Mas as vezes a pessoa está
com rinite ou um resfriado, e se os sintomas forem muito leves, especialmente
se não tiver febre, é possível fazer a vacina", aponta Colares.
É importante concluir o esquema vacinal após a doença, ressalta o imunologista
Edson Teixeira. O especialista apinta que o adiamento da vacinação, em casos
de sintomas leves, é mais uma precaução.
"Para evitar que se confunda o efeito colateral da vacina com uma gripe, com
um resfriado, é melhor adiar a vacina, sobretudo se houver febre. Isso se deve
consultar o médico, mas não é uma contraindicação", explica o especialista.
Quando procurar o atendimento médico?
A bula das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca, por exemplo, trazem a
recomendação de procurar orientação médica antes de tomar a vacina em casos de
doença aguda ou infecção com febre alta. De modo geral, os fabricantes
orientam procurar o médico nos seguintes casos:
- Se já apresentou reação alérgica grave ou problemas respiratórios após qualquer outra injeção de vacina ou após você ter recebido o imunizante anteriormente
- Se tiver problemas de hemorragia ou coagulação, machuca-se com facilidade ou utilizar um medicamento
- para prevenir a formação de coágulos sanguíneos, ou qualquer tratamento para afinar o sangue.
- Se tem um sistema imunológico enfraquecido, ou é um imunossuprimido, seja por uma doença ou por estar fazendo uso de algum medicamento para o tratamento de alguma doença.
- Se está grávida ou amamentando
- Os especialistas explicam que todos os pacientes com doenças crônicas devem buscar orientação dos profissionais que já os acompanham antes de realizar a vacinação. O acompanhamento também pode ser necessário em casos de sintomas colaterais anormais.
O que faço se descobrir que estou grávida após tomar a vacina?
No Brasil, grávidas são imunizadas contra a Covid-19 e estão no grupo
prioritário. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) orientou a
suspensão da aplicação da vacina da AstraZeneca em gestantes e puérperas no
País. A imunização segue com os outros imunizantes.
Embora as bulas dos imunizantes não recomendem a vacinação do grupo, estudos
já mostraram que os imunizantes são seguros. É importante procurar o
profissional obstetra, que pode realizar o acompanhamento do caso.
"Acontece que ao longo da vacinação, muitas grávidas que não sabem que estão
grávidas ainda acabam por se imunizar. E aí esses dados são coletados e se
verifica a segurança", explica o imunologista Edson Teixeira.
Posso tomar remédios para os sintomas colaterais das doenças?
É comum que o indivíduo apresente alguns sintomas após receber uma vacina, e
procurem algum medicamento para aliviá-los. Os especialistas explicam que não
há contraindicação para o uso moderado de remédios após a vacinação.
"Tem gente que tem febre, parece até que está adoecido, por conta da ativação
do sistema imune. Então, se der febre, se ficar com muita dor no corpo, dor de
cabeça, também pode tomar medicações para aliviar", explica o professor Keny
Colares.
Em caso de dolorimento no local da injeção, também é possível fazer compressa
morna ou gelada. De modo geral, os efeitos adversos são bem tolerados e duram
até 72h após a vacinação, conforme os pesquisadores.
Os sintomas mais comuns são dor no local, cansaço, dor no corpo, dor de
cabeça, dor nas articulações, febre moderada e enjôo. Segundo Keny, os efeitos
ocorrem porque as vacinas ativam o sistema imunológico de maneira semelhante
às doenças.
O imunologista Edson Teixeira aponta sintomas incomuns que podem aparecer,
como diminuição do apetite, dor abdominal, sudorese e inchaço nos linfonodos.
Caso os sinais durem mais de 72h, é recomendado procurar um médico.
"De modo geral, não se faz necessário a administração de nenhum fármaco. É
claro, que se o indivíduo tiver uma reação exacerbada, que é muito rara, e
tiver uma febre muito alta, aí você pode usar. Isso de forma alguma vai afetar
a imunização. O que poderia afetar são doses muito altas de corticoides, que
na maioria das vezes não é o caso"
Posso ingerir bebida alcóolica após a vacinação?
Não há evidências de que o consumo de bebida alcoólica interfira na eficácia
das vacinas contra Covid-19, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
De acordo com o imunologista Edson Teixeira, o consumo de álcool não tem
impactos no posto de vista imunonológico. Apenas casos de alcoolismo crônico,
em que há imunossupressão, podem ter um alteração no resultado da
vacinação.
"Entretanto, como são vacinas novas e não se foram testadas associações,
apesar de não ter essa recomendado na bula, o estado do Ceará está solicitando
pelo menos 24h de intervalo após a tomada sem ingestão de álcool", explica
Teixeira.
O consumo de uma taça de vinho ou um copo de cerveja, portanto, não é
prejudicial. Porém, o professor Keny Colares ressalta que o uso de álcool ao
longo do tempo faz mal da saúde, especialmente em grandes quantidades.
"Em resumo, a ideia seria evitar abusos, utilizar em pequenas quantidades. Não
existe contraindicação, o álcool não vai cortar o resultado da vacina. Agora,
não se recomenda que a pessoa faça o uso excessivo, porque vai fazer mal a
saúde. E tudo que faz mal a saúde piora o aproveitamento da vacina"
Posso tomar vacinas para duas doenças ao mesmo tempo?
O Brasil realiza, ao mesmo tempo, as campanhas de imunização contra a Covid-19
e contra a gripe. A Organização Mundial da Saúde e recomenda esperar pelo
menos 14 dias entre a vacinação contra Covid-19 e vacinação contra qualquer
outra vacina. O intervalo é seguido pelo Ministério da Saúde.
Proteção após vacinação:
No caso de vacinas administradas em duas doses, a proteção máxima somente após
a dose de reforço. A Pfizer, por exemplo, aponta que a proteção de seu
imunizante ocorre depois de sete dias da segunda dose.
"Após 14 a 21 dias da segunda dose, o indivíduo pode ser considerado
imunizado. Isso não quer dizer que não possa contrair a doença. A gente tem
visto pessoas vacinadas que acabam contraindo a doença e podem ter até casos
graves. Mas a probabilidade é infinitamente menor", aponta o imunologista
Edson Teixeira.
Os especialistas ressaltam que nenhum imunizante aprovado até o momento
confere 100% de proteção. No Brasil, onde os índices de casos e óbitos seguem
em patamares altos, as pessoas vacinadas não devem abandonar as medidas de
proteção, com o uso de máscaras e distanciamento social.
"A gente só vai estar seguro quando a gente diminuir a transmissão, o número
de casos na nossa cidade, reduzir de uma forma muito acentuada. Enquanto tiver
gente com o vírus circulando, eu não estou 100% seguro. Devo continuar usando
máscaras, seguindo todas as medidas" orienta Keny Colares.
Diário do Nordeste